quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Feliz Dia Nacional do livro!

 "Entre palavras e combinações de palavras, circulamos, vivemos, morremos, e palavras somos"
Drummond de Andrade

"informou-me que possuía 'As reinações de Narizinho', de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o.[...]
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante."
"Felicidade Clandestina'' de Clarice Lispector



Em homenagem a esses nossos amigos
que preservam nossa cultura e identidade

4 comentários:

  1. Eu amo Clarice Lispector! E quantas, quantas vezes não me senti assim "Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante."?

    BOM FINAL DE SEMANA, MEU AMIGO.

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  2. Um livro faz parte de mim e muitas vezez entrei em livrarias, umas vezes comprava, outras nao, mas o simples facto de abrir os livros, tentar sentir a alma dele, apenas atraves de um pouco de leitura, torna-lo a fechar e colocar na prateleira, deixando comigo o cheiro dele, me dava tamanha felicidade e regressava a casa como se tivesse feito o maoir dos passeios e enfeitava aquela hora em que nao queria sentir a solidao e dava rumo aos meus passos, quando muitas vezes saia, sem saber para onde ir. Gostei.
    fernanda

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  3. Eu também compartilho do
    mesmo surto apaixonado
    (Sério)
    É por isso que eu acredito que não tem
    como o livro digital extinguir
    os de papel.
    O toque é fator essencial na leitura.
    Sem contar que o livro trás
    em sí a própria história dos que o leram antes.

    Lendo um livro antigo e amarelado de Aghata Christie da biblioteca,
    Encontrei no final de um capítulo
    uma frase em grafite:

    "Arfando com o suspense"

    Adorei =]

    Deixei um recado meu também

    Graças a Deus o Bibliotecario
    não percebeu.

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  4. Nao tem comparacao!
    Um livro digital nao tem nada parecido com o ler num livro. E tenho de fazer um esforco muito maoir para me concentrar. nao tem cheiro, cor, passos, vozes.... poderia passar horas a falar de livros. melhor parar...
    achei graca esse aparte. sao pequenos momentos com tamanha grandiosidade que nos marcam para sempre.

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