sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Clássico desabrochando com nova aparência


Mais um épico da literatura entra no embalo cinematográfico de novas adaptações. Dessa vez trata-se de um renomeado conto do folclore germânico ambientado na Floresta Negra no sul alemão e que foi eternizada no século XIX por Jacob e Wilhelm Grimm, tendo sido escrito originalmente por Charles Perraul. O Título original do filme é 'Red Riding Hood' que traduzido poderia ser 'Capuz vermelho' ou 'Chapeuzinho Vermelho'. Entretanto, o nome adotado para o Brasil foi 'A Garota da Capa Vermelha'.
O que tudo indica é que se trata de um suspense adulto que envolve um romance proibido e uma criatura ameaçadora. Em uma vila na era medieval uma jovem chamada Valerie se apaixona pelo forasteiro órfão Peter, levando sua família ao desgosto, já que estava prometida a outro homem. O casal - como de praxe - planeja fugir, mas adia seus planos quando a irmã mais velha de Valerie é morta por um lobisomem que vaga pela floresta próxima ao vilarejo.O filme tem previsão para o final do primeiro trimestre de 2011 e parece uma boa proposta para as férias.




Ilustração do francês Gustave Doré (1832 - 1883)


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Memorável...

Sou daqueles que sofrem epifanias após saborear uma obra artística que possua dignidade. E foi isso o que eu experimentei quando fui à sala do cinema assistir a Parte I de Harry Potter e as Relíquias da Morte. Comenta-se muito a omissão de personagens, mas isso não comprometeu o trabalho, que ganhou um tom mais analítico. O que realmente houve foi uma materialização das angustias e dos anseios do trio protagonista. A ambientação saiu bem sombria e mórbida, a tensão impactante. Entretanto, cenas como a tocante dança de Harry e Hermione trouxeram lascas de esperanças, devaneios que alimentaram a chama da fé no amor.
Destaque para a Edwiges e Dobby que morreram deixando um rastro de bravura e lealdade.



sábado, 20 de novembro de 2010

Um dia, toda criança no mundo saberá seu nome...

"A meio caminho da subida íngreme, porém, eles encontraram palavras gravadas no chão.

Paguem-me os frutos do seu árduo trabalho

O Cavaleiro Azarado apanhou sua única moeda e colocou-a na encosta relvada, mas ela rolou para longe e se perdeu. As três bruxas e o cavaleiro continuaram a subir, e, embora tivessem andado durante horas, não avançaram um único passo; o topo continuava distante e a inscrição permanecia no chão diante deles.

Todos se sentiram desanimados quando viram o Sol passar por suas cabeças e começar a declinar em direção ao longínquo horizonte,  mas uma das bruxas andou mais rápido e, empenhando mais esforço do que os demais, estimulava-os a seguir seu exemplo, embora tampouco avançasse na subida do morro encantado.

- Coragem amigos, não fraquejem! – gritava ela, enxugando o suor do rosto.
A medida que as gotas de suor caíam, cintilantes, na terra, a inscrição que bloqueava o caminho desaparecia, e eles descobriram que podiam prosseguir."

A Fonte da Sorte - 'Contos de Beedle, O Bardo' de J.K.Rowling 




Estava mais do que na hora de alguém dar o ponta pé inicial para o renascimento dos contos medievais com suas facetas originais. Obras onde as lições são aprendidas no desenrolar do enredo, e não apenas em frases filosoficamente estruturadas. Histórias que contam da magia antiga e de seres místicos, mas cujo foco principal é retratar as verdades da vida social, política e emocional das pessoas. O folclore britânico experimenta um novo desabrochar com as excursões literárias de Jo Rowling – que assumiu o nome de Joanne Kathleen Rowling, para se utilizar do abreviativo J.K.Rowling que garantiu, por pouco tempo, o ar de dúvida se o autor era do gênero masculino, o que supostamente atrairia os garotos. 

Seus temas podem ser enxergados por vários ângulos. Visões históricas e políticas onde a nobreza é uma instituição falida e os políticos tentam passar uma falsa idéia de segurança. O Ministério da Magia que com suas artimanhas e falcatruas demonstra a decadência das intistuições políticas; Os Malfoy e as outras famílias de ‘Puros sangues’ que se envolvem em corrupção e em práticas ilegais; Outra visão pode ser a da aceitação e superação da morte.

Jo garante que não pretendia forçar ‘nenhum sistema de crenças’, mesmo confessando que o livro de Harry Potter possui pesada referencia aos princípios e à história cristãos, onde se destaca o sacrifício de morte em nome do amor. ‘Quando alguém morre o amor não para de correr como quem fecha uma torneira’, e isso se mostra verdade quando vemos que a morte da mãe de Rowling teve influencia clara sobre toda a história da série. Sua mãe morreu mas a relação de amor entre as duas perdurou e deu como fruto uma saga comovente sobre superação da morte e o poder do amor. Mergulhar no seu mundo de magia foi um escape para a dor da morte. ‘Se foi um refúgio para estas crianças, dá para imaginar como foi para mim’ confessou a escritora, em entrevista exclusiva para Oprah Winfrey.  E só quando as pessoas se livrarem da viciosa tendência de ler baseado na superficialidade e não nas entrelinhas, é que essas palavras da escritora lhe serão compreensíveis: “Não estou dizendo que acho que magia existe, não estou. Mas esta é a idéia da magia, de que nós mesmos temos poder e podemos moldar nosso mundo.”

Jo trabalhou como secretária em Londres até a morte de sua mãe de esclerose múltipla o que a levou a uma primeira crise emocional. A segunda crise que desencadeou uma depressão clínica veio com o divórcio quando ela se mudou de Portugal para a Escócia com sua filha ainda bebê. Experimentou tanto a pobreza quanto as dores da alma. Daí nasceram os Dementadores, seres mórbidos e encapuzados que se alimentam de pensamentos bons, transmitindo para as pessoas a avassaladora sensação de que nunca mais sentirão alegria na vida. E todos acabam por aprender que para afastar os dementadores da vida não há nada melhor do que memórias felizes e – é claro – uma boa dose de chocolate.

Ela tinha vinte e cinco anos quando em uma viagem de metrô na estação de King Cross, uma das mais importantes da Grã-Bretanha, seu veiculo que ia de Manchester à Londres se atrasou por problemas técnicos e então a correnteza de idéias começou a fluir. A história de um menino que não sabia que era bruxo, sua cicatriz, a escola de bruxaria e suas casas e disciplinas inusitadas... Tudo nascia ali – a animação deve ter se confundido com a dolorosa autoflagelação por não está com uma caneta na ocasião. Bendito maquinista que não fez o checape prévio!  A ‘Pedra Filosofal’ foi escrita nas cafeterias de Edimburgo, na Escócia, terra do Uísque, da gaita de foles e dos saiotes. Daí para ser publicada foi um martírio. Houveram seguidas recusas das editoras, mas segundo o que dizia a voz na cabeça da Rowling na época, a dificuldade seria apenas na publicação, ‘se ele for publicado, terá muito sucesso’.  Isso foi pressentido no início do primeiro livro, nem que inconscientemente: ‘Um dia, toda criança no mundo saberá seu nome. ’

J.K. Rowling, mãe solteira com problemas financeiros e emocionais, aceitou o contrato com o desanimador aviso de seu agente de que ela ‘nunca terá dinheiro escrevendo para crianças’. E foi algo a mais do que o título de primeira pessoa a se tornar bilionária através da escrita que Jo conquistou. Ela se tornou vastamente reconhecida e prestigiada, uma das mulheres mais influentes na história. Lançou 400 milhões de livros em cerca de setenta dialetos para leitores em centenas de nações. O último livro de série foi o best-seller mais rapidamente vendido de toda a história. Tem quem lhe dá honras de que atualmente Rowling é a escritora que mais introduz as crianças no mundo das letras.

Escreveu sua última obra da série no hotel histórico Balmoral, também na escócia. A autora comparou o processo de finalização da série com a morte; ambos dolorosos e inevitáveis, ‘uma grande perda’. Indiscutivelmente esclarecedor! E como qualquer conto grimniano que se pressa, o final não poderia ser outro além do ‘Tudo estava bem’...

“Se eu achasse que poderia ajudá-lo – disse Dumbledore a Harry, brandamente – mergulhar você em um sono encantado e permitir que adiasse o momento em que terá de pensar no que aconteceu, eu faria isso. Mas sei que não posso. Amortecer a dor por algum tempo apenas a tornará pior quando você finalmente a sentir”

Harry Potter e o Cálice de Fogo – J.K.Rowling

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A vida segundo Shakespeare - Ninguém melhor \o/



"O mundo inteiro é um palco.
Todos os homens e mulheres não passam de atores,
Têm as suas entradas e saídas;
E na sua vida o homem desempenha vários papéis; Os seus atos têm sete idades. Primeiro, a criança,
Gritando e babando nos braços da ama.
Depois o aluno chorão, com a sua pasta
E a sua brilhante face matinal. Vai-se arrastando como um caracol
De má vontade para a escola. E depois o apaixonado
Suspirando como uma fornalha, com uma balada triste
Composta para a sobrancelha da sua namorada. Mais tarde um soldado,
Cheio de estranhos juramentos, e barbado como um leopardo,
Zeloso da honra, e violento e rápido na luta,
Buscando a bolha de ar que é a fama.
Até na boca do canhão. E depois a vez do Juiz,
Com sua barriga redonda recheada por um bom capão,
De olhos severos e a barba de cortes formal,
Cheio de sábios refrões e exemplos modernos;
E assim representa seu papel. A sexta idade se transforma
Em calças largas e chinelos,
Com óculos no nariz e a bolsa do lado,
Os seus calções da juventude, bem conservados, 
demasiadamente largos
Para suas magras canelas; e a sua forte voz viril,
Transformando-se novamente em falsetes infantis, apita
E assobia o seu som. A última cena de todas,
Que põe fim a esta estranha história cheia de acontecimentos,
É uma segunda infância e um simples esquecimento,
Sem dentes, sem olhos, sem paladar, sem nada."

William Shakespeare

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Achados nos exames


“Homens na Inglaterra, por que arar para os senhores
Que vos mantém na miséria?
Por que tecer com esforços e cuidado as ricas roupas
Que vossos tiranos vestem?
Por que alimentar, vestir e poupar do berço até o túmulo
Esses parasitas ingratos que exploram vosso suor – ah,
Que bebem vosso sangue?”
 Os homens da Inglaterra - Percy Shelley 

Encontrei esse texto durante meus exames de vestibular. Aqui o poeta inglês Shelley demonstra sua posição em relação às conflitantes condições sociais na Inglaterra durante o início do século XIX, cheia de contrastes e desigualdades. Fiquei surpreso com a escolha desse autor em uma prova de âmbito nacional, já que a educação brasileira demonstra certo receio em semear a cultura literária em nível universal. Talvez seja por que a literatura nacional por si só não se infiltrou em escala aceitável no mundo dos estudantes, o que é lastimável.

Encontrei também o fragmento abaixo do ‘Príncipe’, de Maquiavel, que não é um dos meus escritores favoritos, mas tem a sua importância histórica, além de conquistar uma gama considerável de admiradores. Sempre o achei ultrapassado, principalmente por saber que Líderes populistas que não optaram pela tirania tiveram glória memorável. Entre esses líderes destaco Elizabeth Tudor, que optou pela tolerância religiosa mesmo em uma época de perseguições e triunfou sobre a grande armada marítima espanhola de Filipe II; Antônio Conselheiro, que administrou uma comunidade auto-sustentável mesmo em condições precárias; Sem contar também o nosso ainda atual Presidente Lula que, mesmo não tendo o 'peso educacional' de outros presidentes da nossa história, tem aptidão para a liderança e a vontade de realmente fazer algo pelo bem dos brasileiros, e não só da economia ou da elite.

Entretanto, sou forçado a dar o devido valor histórico a Maquiavel e suas idéias - que o tempo colocou por chão. Lembro de ouvir comentários de que o ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso dormia com ‘o príncipe’ no seu criado mudo. E adivinhem o que ele fez pelo país...


“O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que outros que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levam ao assassínio e ao roubo.”

Maquiavel 

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Honra aos dignos de honra...

Recebi esse selinho da minha tão estimável amiga Michele do Blog Meus Devaneios, e tenho o dever de repassá-lo para aqueles que tornam o meu mundo mais radiante com seus blogs tão acolhedores. Demorei um pouco para postar, e acabou que alguns dos sibe espaços que eu tanto amo, como o de Viviana e o de Fernanda, já foram premiados.No entanto, quero ressaltar a minha lástima de não poder indicá-los eu mesmo.

Voilá minhas queridas:

selinho vai para Milu, do blog Rússia Show, tanto por sua inabalável dedicação à cultura desse povo tão espetacular quanto pelo belo engajamento político.

selinho vai para Deny do Rabisco Online, por compartilhar tão generosamente seus rabiscos repletos de encanto.

e o último selinho (igualmente especial) vai para Lua Nova, recente amiga, do blog Chocolate com Pimenta, em homenagem ao seu engajamento de explorar o mágico, o abstrato e o impalpável.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O livro dos Saltimbancos - Parte II



Para os que já viram a Parte I 
e acham que vale a pena prosseguir...


Carlito passou a se encubar em seu quarto ou na sala de leitura. Tornava-se esguio e fechado, o que o atarefado Sr.Rocha notara, mas não deu especial atenção de início, pensando tratar-se de “Coisas dos rapazes de hoje em dia... Tão auto-suficientes!”. Em um passeio ao museu, Carlito, seu pai e um amigo recente se depararam com uma tapeçaria colossal onde se viam gravuras coloridas e fragmentadas.

- Donde é este, mister Rocha? – perguntou o acompanhante.

- São tapetes da alta idade média com mosaicos bizantinos – Respondeu o garoto, gravando uma expressão de surpresa agradável na face de seu pai.

- Onde aprendeu essa, Carlos? – indagou o Sr. Rocha, orgulhoso.

- Com o Curinga – respondeu, sem dá margem para o pai pergunta-lhe quem era o tal curinga, pois correra para admirar os canivetes rudimentares.

De volta á casa, cumprimentou um acrobata, que passava as noites sobre o lustre da sala. Seus olhos eram carnudos e suculentos, rodeados por vãos escuros e sombrios, que davam a impressão de que os ossos da face recuaram. Cobria-se com trapos e uma tanga de couro leve cor de lodo. As pernas incrivelmente longas se cruzavam e percorriam o corpo, repousando sobre os ombros. Uma mulher robusta, de olhos altivos, exibia seu xale cor de âmbar, do qual não cansava de disser que era um presente de um marinheiro do oriente. Um domador de feras brincava com Sofia no berço, enquanto essa grunhia “sodadinho, sodadinho”. O felino negro enorme descansava sobre o assoalho. E, quando era sentia a mínima agitação, todos desapareciam como em um salto. O Sr. Rocha estava frustrado com  tamanho recuo para com a  realidade. Observava intrigado o beirado das portas, onde uma luz clara e fantasmagórica parecia surgir de uma fonte sobre o piso. No quarto, o Curinga e uma miúda dançarina encenavam um habilidoso teatro de sombras, sobre a luz que se propagava do livro aberto. O livro parecia em chamas, mas permanecia intacto. Era sublime.

Em uma dessas apresentações, o Coringa contava para o garoto, com o auxílio das imagens na sombra, como os hunos tinham abandonado o território da antiga Rússia e atacado ferozmente o Império Germano e o Romano. De repente, ouviram-se pancadas na porta trancada, que exigiam que Carlos a abrisse. Carlito observava a porta, receoso. O Curinga, atirando para o lado as extremidades de seu chapéu cone de várias pontas, confidenciava em secreto ao garoto.

- Sabes que se te tornares um de nós poderás ser também errante e livre. Explorar os mundos que quizeres e não apenas os que te obrigam – sussurrou o Curinga, com sua voz rouca e cativante, que ditava as palavras como se delas quisesse retirar todas as sensações do mundo – ele é só um obstáculo... – e, sorrindo aberto, desapareceu sobre a penumbra dos livros.

Durante o jantar, o Sr.Rocha  batia os dedos pesadamente sobre a mesa lixada de eucalipto , produzindo um som embaraçoso e perturbador. Seu filho comia pacientemente, ainda com o livro descansando nos joelhos, escondido sobre a tampa da mesa. Parecia não reparar o olhar intrigado de seu pai. O bebê urrava “Cadê sodadinho?” .Terminada a sobremesa de doce de abóbora, o menino saiu saltitante para o quarto, encoberto por um olhar pesado, impaciente.

- O que tem feito se recuando no seu quarto como uma ratazana assustada? – Perguntou, finalmente.

Carlito parecia perturbado, como se a pergunta ofendesse. Acabou por responder que se tratava de nada em especial.

-Deixe-me ver o livro – Ordenou seu pai, com o braço esticado, sem demonstrar emoção.

Carlito parecia receoso e perturbado. Contraiu o livro com mais firmeza sobre os dedos. O homem insistiu. Uma faísca de ira parecia se propagar pelos olhos abalados do garoto. Percebendo a recusa, o Sr.Rocha se avançou em direção ao menino, até que sentiu uma pancada gritante na nuca. Olhou para trás e não avistou nada. Estava estupefato. Carlos correu para a sala de leitura, segurando firmemente o livro. Viu o Curinga, se equilibrando sobre uma pilha de livros. Deram olhares significativos e o ser sumiu. O arfante homem penetrou na sala, batera os olhos sobre o filho, curvando a coluna para compartilharem a mesma altura.

- Vamos deixar de brincadeiras. Confie em mim. É só entreg... – Nesse momento, uma fera negra que brandia freneticamente, gelando os nervos, saltou sobre o Sr.Rocha, decompondo-se em uma espessa fumaça espectral. Foi como se o animal tivesse dilacerado o homem pelo seu interior, fazendo-o despencar em um baque expressivo. Carlito gritou energicamente. A neblina se sintetizou outra vez em um gato cor de carvão. Outro grito se ouviu da cozinha. O Curinga surgiu em seguida, com um sorrindo de satisfação, enquanto observava o corpo inerte do pesquisador. Carlito se irrompeu em fúria e disparou desesperando para a porta, em direção a cozinha. A Dona Glória estava abatia sobre o piso, morta. Ele chorou. Tinha de se livrar do livro. Inspecionou o avental da ama. Apolo, o Curinga, o observava apoiado na moldura da porta entreaberta. O ser se adiantou, ainda sorrindo pertubavelmente.  

- O que estás pensando em faz... – perguntou Curinga, quando viu o garoto acendendo o isqueiro que apanhara do bolso de Dona Glória. Carlito fez a chama dançar sobre o livro, sem se propagar. O Coringa adiantou-se e saltou sobre o guri...

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Os corpos foram encontrados por um colega de trabalho do Sr.Rocha, que desconfiara da ausência não justificado em uma reunião. O corpo do pai na sala de livros, o do bebê pálido no berço da sala e a da criada e do garoto na cozinha.Esse envolvia entre os braços um livro corpulento. A perícia não conseguiu revelar a causa mortis. Suposto envenenamento. Sem mais nenhum menbro da família vivo, a mobília, artefatos e os livros foram doados. Décadas depois, em uma zona de livros raros da Biblioteca estadual Castelo Branco, no Recife, um rapaz passeava entre as prateleiras, quando ouviu o delicioso e cativante som de uma harpa...